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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Uma retrospectiva: do sofrimento à glória

Somos campeões. Isso é a única coisa que consigo (ou tenho a capacidade de) dizer depois do que aconteceu em Curitiba ontem. Confesso, me faltam palavras. Ou talvez não. Talvez elas não faltem. Talvez sejam apenas insuficientes para exprimir a felicidade que não apenas eu, mas todos os palmeirenses sentimos com esse título da Copa do Brasil. Enfim, pudemos soltar o grito de "É CAMPEÃO, que estava entalado na garganta. Enfim, pudemos comemorar. Merecíamos isso. Ainda mais depois de tudo o que passamos na última década.

Aqueles palmeirenses que, assim como eu, estão na casa dos 20, 30 anos, se acostumaram a ver o clube ganhar jogos, ser campeão. Na década de 1990, com a co-gestão da Parmalat, tínhamos grandes times. Times não, esquadrões, seleções. Batíamos em todo mundo, fomos campeões de quase tudo o que disputávamos  Tínhamos orgulho de ser palmeirenses. Mas a Parmalat nos deixou. E expôs o quão preparados não estávamos para caminhar com nossas próprias pernas. Se foram as vitórias fáceis, os grandes títulos, os esquadrões e um pouco do orgulho de grande parte da torcida. E vieram as más administrações, as polêmicas, as brigas incessantes pelo poder, os vexames, as piadas.

Ah, como sofremos. A primeira década do século XXI começou ruim para o torcedor daquele que era o “Campeão do Século XX”. Eliminados pelo Asa de Arapiraca na Copa do Brasil no início de 2002, caímos, ao fim do mesmo ano, e fomos obrigados a jogar a Série B, depois de tomar de 7x2 no Vitória em pleno Palestra Itália pela Copa do Brasil de 2003 - o mesmo time baiano que fechou nosso caixão no ano anterior -, ao lado de Marilias, Joinviles, Nacionais e outros times de menor expressão no país, exceção feita ao Botafogo, outro grande acometido do mesmo mal. Conseguimos voltar, carregados por, vejam só, garotos revelados por nossas categorias de base, fugindo totalmente às características impostas pela “Era Parmalat”, onde tínhamos recursos ilimitados, como naqueles ‘cheats’ de videogame. Parecia ser este o caminho, apostar na molecada. E era. Voltamos com força e fomos até a semifinal do Paulista, onde sucumbimos perante ao Paulista de Jundiaí, que viria a ser campeão da Copa do Brasil no ano seguinte. Não desistimos, e íamos bem no Brasileirão daquele ano, o primeiro de pontos corridos que disputávamos.
Liderávamos o certame. Parecia que tínhamos voltados mais fortes das trevas da segunda divisão. Ledo engano. A diretoria, comandada por Mustafá Contursi, vendeu nosso melhor jogador. E com Vagner Love, fruto de nossa base, se foram, para a Rússia, nossas chances de título. No fim, conseguimos uma vaga na Libertadores do ano, seguinte. Nada muito animador. Fomos eliminados pelo São Paulo. O ano foi de figuração e, novamente, uma vaga no torneio continental acabou diminuindo a frustração. 

Veio então 2006 e nada que nos animasse, a não ser a volta de um ídolo. Edmundo, o animal, um dos símbolos de uma era vitoriosa, estava de volta para tentar nos guiar, ao lado de São Marcos, que nunca nos abandonou, a uma nova era de vitórias. Porém, veio outra eliminação na Libertadores para o time de Jd. Leonor e no Brasileiro... ah, o Brasileiro. Quase caímos novamente. 2007 não foi muito diferente. Foram feitas apostas em jogadores de clubes menores. Uma delas, num chileno (ou seria venezuelano) de nome Valdivia. Ninguém aqui conhecia aquele jogador cabeludo que por aqui desembarcou no ano anterior sob desconfiança. Não deu muito certo, pois voltamos a fazer figuração, além de registrar mais um vexame nos anais: eliminação para o Ipatinga, em casa, na Copa do Brasil.

'Chega logo 2008', clamávamos. E ele chegou. E trouxe um velho conhecido, o profexô Luxemburgo, que tinha nos tirado da fila em 1993 e ganhado quase tudo por aqui. Além disso, começava ali uma parceria com a Traffic, que imaginávamos seria uma nova Parmalat em nossas vidas. E tudo começou bem, com o treinador do terno e gravata nos dando o Paulista ante uma surpreendente Ponte Preta, em um time comandado por aquele chileno cabeludo, que se transformava no Mago alviverde, por um tal de Kleber, revelado do outro lado do muro, e que virava o Gladiador, pelo guerreiro Pierre, volante raçudo que sustentava o meio campo, por Henrique, nosso novo xerife na zaga, por Alex Mineiro, o artilheiro careca e por nosso São Marcos, que prometeu se quebrar todo se necessário para não perder o título. Acabava a fila, mas nem tanto. Voltamos à Libertadores no ano seguinte, de presidente novo. Luiz Gonzaga Belluzzo, economista, homem inteligente, culto, de visão, nos comandava. A Traffic abasteceu o elenco. Trouxe várias revelações para a Academia de Futebol. Cleiton Xavier, Keirrison, Marquinhos, Willians se juntavam a peças como Marcos, Pierre, Diego Souza...
Começamos bem e fizemos um belo Paulista, até sermos eliminados pelo Santos na semifinal. Mas quem se importava? Estávamos na Libertadores também, passando com sufoco pela primeira fase. Eliminamos o Sport nas oitavas com Marcos operando de seus milagres. Parecíamos ganhar força e corpo para buscar o bicampeonato. Mas paramos diante do Nacional do Uruguai, por conta de um maldito gol sofrido em nossos domínios. Restava o Brasileiro. Começamos instáveis, Luxa deu adeus após uma polemica com Keirrison e seguimos nosso caminho com o interino Jorginho. O time encorpou de vez e assumimos a ponta, com o ápice na vitória contra o Corinthians por 3x0. Jorginho deixou o comando. Muricy Ramalho assumiu. Tínhamos um bom time e que seria treinado pelo cara que tinha ganhado os últimos três nacionais. Não tínhamos como perder. Não parecíamos que iríamos perder. Mas perdemos. O time, que em certo ponto foi à Vila Belmiro e virou um jogo difícil contra o Santos e ouviu das arquibancadas o grito de ‘É CAMPEÃO’, desmoronou aos poucos. Nem mesmo a volta de Vagner Love, que parecia ter retornado para nos dar o título que foi embora com ele cinco anos antes, nem a manutenção de nossos melhores jogadores, nem ter no banco o técnico que vencera os três Brasileiros anteriores deu jeito. Nem a vaga na Libertadores vimos.

O começo de 2010 foi tenso. Muricy não resistiu ao Paulista. Veio a aposta em um ex-jogador dos tempos áureos, Antonio Carlos Zago, que também sucumbiu rapidamente aos maus resultados. A única coisa que salvou foi o início das obras para a criação da Arena Palestra Itália. Mesmo assim, ficamos sem casa. E bateu o desespero. Assim, Belluzzo resolveu apostar na volta de ídolos do clube, para tentar dar um novo rumo ao Palmeiras. Felipão, Valdivia e Kleber voltaram. Mas não deu liga, a química não aconteceu. Chegamos a semifinal da Copa Sulamericana para protagonizar mais um vexame: ser eliminado pelo rebaixado Goiás em pleno Pacaembu. Ô sina!

O ano de 2011 foi turbulento. Dentro de campo, o time não correspondia. Fora, brigas e polemicas tomavam conta. Lincoln e Felipão se estranharam. O meia se foi. Depois, torcedores bateram em João Vitor, que havia começado um tumulto com outro torcedor. Kleber tomou as dores do companheiro e brigou com Felipão. Antes, o ex-camisa 30 já vinha tentando melhorar seu contrato e falando bobagens. Acabou saindo também. O barco não tinha comando. Os dirigentes, estavam mais perdidos do que cego em tiroteio. 

Sob desconfiança, de novo, começamos 2012 e já com a noticia da aposentadoria de São Marcos. Mas apesar de tudo começamos bem no Paulista, o que nos dava uma esperança de que nesse ano iriamos ganhar algo. Contudo, no meio do caminho, apareceram as primeiras pedras e tivemos de caminhar aos trancos e barrancos mesmo, cheios de problemas, especialmente externos, como o sequestro relâmpago de Valdivia  que nos deixou em vias de perder nos melhor jogador. O chileno ficou, no entanto, e caminhou com o time. Passamos por Coruripe, Horizonte, Paraná e Atlético PR. Ganhamos confiança. Enfrentariamos o Grêmio de Luxa e de Kleber, favorito na semifinal. Os despachamos, com uma vitória lá e um empate cá. Voltávamos a uma decisão de Copa do Brasil, contra o Coritiba, quis o destino. Ah, o Coritiba. O time que tinha nos enfiado um 6x0 goela abaixo no ano anterior. Hora da vingança? Não. Hora do título.
Mas quem disse que seria fácil? Antes do primeiro jogo, perdemos Barcos, nosso artilheiro, vitima de uma apendicite. E já não teríamos Henrique, expulso, sabe-se lá porque, contra o Grêmio. Mesmo assim, vencemos em nossa casa de aluguel, a Arena Barueri. 2x0. Bela vantagem. Restava a batalha final, em Curitiba. E a encararíamos sem Barcos novamente, e agora, sem Valdivia, expulso infantilmente. Mas Henrique, voltava. Mesmo com febre e resfriado. É jogo que ninguém quer ficar de fora. É jogo para se mostrar raça, determinação, como fez Luan, que mesmo machucado permaneceu em campo. E foi o que houve. Por pouco mais de 90 minutos, os jogadores do Palmeiras mostraram um pouco da grandeza do clube, mesmo que muitos deles sejam limitados. O suficiente para empatar o jogo em 1x1, após sair atrás no placar e se consagrar campeão invicto. É, ontem pudemos gritar novamente ‘É CAMPEÃO’ após anos de sofrimento.

Todo esse tempo que ficamos a esmo e essa retrospectiva me fizeram lembrar de como tenho orgulho e amor por esse time. E torna essa conquista muito mais saborosa. Deixamos de ser motivo de piada e voltaremos a ser respeitados, a causar pânico nos rivais. Acredito que todos nós, palmeirenses, sentimos o mesmo. 

Quero deixar aqui meu muito obrigado a todos que nos deram mais um título. Há muita coisa a melhorar ainda, porém, agora teremos um pouco menos de pressão. Assim as coisas poderão fluir melhor e voltarmos a conquistar títulos a rodo, como sempre fizemos. E peço desculpas também a quem se arriscou a ler esse texto enorme. Mas precisava compartilhar isso.

O GIGANTE ACORDOU E ESTÁ SEDENTO POR TAÇAS!

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