Somos campeões. Isso é a única coisa que consigo (ou tenho a capacidade de) dizer depois do que aconteceu em Curitiba ontem. Confesso, me faltam palavras. Ou talvez não. Talvez elas não faltem. Talvez sejam apenas insuficientes para exprimir a felicidade que não apenas eu, mas todos os palmeirenses sentimos com esse título da Copa do Brasil. Enfim, pudemos soltar o grito de "É CAMPEÃO, que estava entalado na garganta. Enfim, pudemos comemorar. Merecíamos isso. Ainda mais depois de tudo o que passamos na última década.
Aqueles palmeirenses que, assim como eu, estão na casa dos 20, 30 anos, se acostumaram a ver o clube ganhar jogos, ser campeão. Na década de 1990, com a co-gestão da Parmalat, tínhamos grandes times. Times não, esquadrões, seleções. Batíamos em todo mundo, fomos campeões de quase tudo o que disputávamos Tínhamos orgulho de ser palmeirenses. Mas a Parmalat nos deixou. E expôs o quão preparados não estávamos
para caminhar com nossas próprias pernas. Se foram as vitórias fáceis, os
grandes títulos, os esquadrões e um pouco do orgulho de grande parte da torcida.
E vieram as más administrações, as polêmicas, as brigas incessantes pelo poder,
os vexames, as piadas.
Ah, como sofremos. A primeira década do século
XXI começou ruim para o torcedor daquele que era o “Campeão do Século XX”. Eliminados
pelo Asa de Arapiraca na Copa do Brasil no início de 2002, caímos, ao fim do
mesmo ano, e fomos obrigados a jogar a Série B, depois de tomar de 7x2 no Vitória
em pleno Palestra Itália pela Copa do Brasil de 2003 - o mesmo time baiano que
fechou nosso caixão no ano anterior -, ao lado de Marilias, Joinviles,
Nacionais e outros times de menor expressão no país, exceção feita ao Botafogo,
outro grande acometido do mesmo mal. Conseguimos voltar, carregados por, vejam
só, garotos revelados por nossas categorias de base, fugindo totalmente às características
impostas pela “Era Parmalat”, onde tínhamos recursos ilimitados, como naqueles ‘cheats’
de videogame. Parecia ser este o caminho, apostar na molecada. E era. Voltamos
com força e fomos até a semifinal do Paulista, onde sucumbimos perante ao
Paulista de Jundiaí, que viria a ser campeão da Copa do Brasil no ano seguinte.
Não desistimos, e íamos bem no Brasileirão daquele ano, o primeiro de pontos
corridos que disputávamos.
Liderávamos o certame. Parecia que tínhamos voltados
mais fortes das trevas da segunda divisão. Ledo engano. A diretoria, comandada
por Mustafá Contursi, vendeu nosso melhor jogador. E com Vagner Love, fruto de
nossa base, se foram, para a Rússia, nossas chances de título. No fim,
conseguimos uma vaga na Libertadores do ano, seguinte. Nada muito animador.
Fomos eliminados pelo São Paulo. O ano foi de figuração e, novamente, uma vaga
no torneio continental acabou diminuindo a frustração.
Veio então 2006 e nada que
nos animasse, a não ser a volta de um ídolo. Edmundo, o animal, um dos símbolos
de uma era vitoriosa, estava de volta para tentar nos guiar, ao lado de São
Marcos, que nunca nos abandonou, a uma nova era de vitórias. Porém, veio outra
eliminação na Libertadores para o time de Jd. Leonor e no Brasileiro... ah, o
Brasileiro. Quase caímos novamente. 2007 não foi muito diferente. Foram feitas
apostas em jogadores de clubes menores. Uma delas, num chileno (ou seria
venezuelano) de nome Valdivia. Ninguém aqui conhecia aquele jogador cabeludo
que por aqui desembarcou no ano anterior sob desconfiança. Não deu muito certo,
pois voltamos a fazer figuração, além de registrar mais um vexame nos anais: eliminação
para o Ipatinga, em casa, na Copa do Brasil.
'Chega logo 2008', clamávamos. E ele
chegou. E trouxe um velho conhecido, o profexô Luxemburgo, que tinha nos tirado
da fila em 1993 e ganhado quase tudo por aqui. Além disso, começava ali uma
parceria com a Traffic, que imaginávamos seria uma nova Parmalat em nossas
vidas. E tudo começou bem, com o treinador do terno e gravata nos dando o
Paulista ante uma surpreendente Ponte Preta, em um time comandado por aquele
chileno cabeludo, que se transformava no Mago alviverde, por um tal de Kleber,
revelado do outro lado do muro, e que virava o Gladiador, pelo guerreiro
Pierre, volante raçudo que sustentava o meio campo, por Henrique, nosso novo
xerife na zaga, por Alex Mineiro, o artilheiro careca e por nosso São Marcos,
que prometeu se quebrar todo se necessário para não perder o título. Acabava a
fila, mas nem tanto. Voltamos à Libertadores no ano seguinte, de presidente
novo. Luiz Gonzaga Belluzzo, economista, homem inteligente, culto, de visão,
nos comandava. A Traffic abasteceu o elenco. Trouxe várias revelações para a
Academia de Futebol. Cleiton Xavier, Keirrison, Marquinhos, Willians se juntavam
a peças como Marcos, Pierre, Diego Souza...
Começamos bem e fizemos um belo
Paulista, até sermos eliminados pelo Santos na semifinal. Mas quem se importava?
Estávamos na Libertadores também, passando com sufoco pela primeira fase. Eliminamos
o Sport nas oitavas com Marcos operando de seus milagres. Parecíamos ganhar
força e corpo para buscar o bicampeonato. Mas paramos diante do Nacional do
Uruguai, por conta de um maldito gol sofrido em nossos domínios. Restava o
Brasileiro. Começamos instáveis, Luxa deu adeus após uma polemica com Keirrison
e seguimos nosso caminho com o interino Jorginho. O time encorpou de vez e
assumimos a ponta, com o ápice na vitória contra o Corinthians por 3x0. Jorginho
deixou o comando. Muricy Ramalho assumiu. Tínhamos um bom time e que seria
treinado pelo cara que tinha ganhado os últimos três nacionais. Não tínhamos como
perder. Não parecíamos que iríamos perder. Mas perdemos. O time, que em certo
ponto foi à Vila Belmiro e virou um jogo difícil contra o Santos e ouviu das
arquibancadas o grito de ‘É CAMPEÃO’, desmoronou aos poucos. Nem mesmo a volta
de Vagner Love, que parecia ter retornado para nos dar o título que foi embora
com ele cinco anos antes, nem a manutenção de nossos melhores jogadores, nem ter
no banco o técnico que vencera os três Brasileiros anteriores deu jeito. Nem a
vaga na Libertadores vimos.
O começo de 2010 foi tenso. Muricy não resistiu ao Paulista. Veio a aposta em um ex-jogador dos tempos áureos, Antonio Carlos
Zago, que também sucumbiu rapidamente aos maus resultados. A única coisa que
salvou foi o início das obras para a criação da Arena Palestra Itália. Mesmo
assim, ficamos sem casa. E bateu o desespero. Assim, Belluzzo resolveu apostar
na volta de ídolos do clube, para tentar dar um novo rumo ao Palmeiras. Felipão,
Valdivia e Kleber voltaram. Mas não deu liga, a química não aconteceu. Chegamos
a semifinal da Copa Sulamericana para protagonizar mais um vexame: ser
eliminado pelo rebaixado Goiás em pleno Pacaembu. Ô sina!
O ano de 2011 foi
turbulento. Dentro de campo, o time não correspondia. Fora, brigas e polemicas
tomavam conta. Lincoln e Felipão se estranharam. O meia se foi. Depois,
torcedores bateram em João Vitor, que havia começado um tumulto com outro
torcedor. Kleber tomou as dores do companheiro e brigou com Felipão. Antes, o
ex-camisa 30 já vinha tentando melhorar seu contrato e falando bobagens. Acabou
saindo também. O barco não tinha comando. Os dirigentes, estavam mais perdidos
do que cego em tiroteio.
Sob desconfiança, de novo, começamos 2012 e já com a
noticia da aposentadoria de São Marcos. Mas apesar de tudo começamos bem no Paulista, o que nos dava uma esperança de que nesse ano iriamos ganhar algo. Contudo, no meio do caminho, apareceram as primeiras pedras e tivemos de caminhar aos trancos e barrancos mesmo, cheios de problemas, especialmente externos, como o sequestro relâmpago de Valdivia que nos deixou em vias de
perder nos melhor jogador. O chileno ficou, no entanto, e caminhou com o time. Passamos por Coruripe, Horizonte, Paraná e Atlético PR. Ganhamos confiança. Enfrentariamos o Grêmio de Luxa e de Kleber, favorito na semifinal. Os despachamos, com uma vitória lá e um empate cá. Voltávamos a uma decisão de Copa do Brasil, contra o
Coritiba, quis o destino. Ah, o Coritiba. O time que tinha nos enfiado um 6x0
goela abaixo no ano anterior. Hora da vingança? Não. Hora do título.
Mas quem
disse que seria fácil? Antes do primeiro jogo, perdemos Barcos, nosso artilheiro,
vitima de uma apendicite. E já não teríamos Henrique, expulso, sabe-se lá
porque, contra o Grêmio. Mesmo assim, vencemos em nossa casa de aluguel, a
Arena Barueri. 2x0. Bela vantagem. Restava a batalha final, em Curitiba. E a encararíamos
sem Barcos novamente, e agora, sem Valdivia, expulso infantilmente. Mas
Henrique, voltava. Mesmo com febre e resfriado. É jogo que ninguém quer ficar
de fora. É jogo para se mostrar raça, determinação, como fez Luan, que mesmo machucado permaneceu em campo. E foi o que houve. Por
pouco mais de 90 minutos, os jogadores do Palmeiras mostraram um pouco da
grandeza do clube, mesmo que muitos deles sejam limitados. O suficiente para empatar o jogo em 1x1, após sair atrás no
placar e se consagrar campeão invicto. É, ontem pudemos gritar novamente ‘É CAMPEÃO’
após anos de sofrimento.
Todo esse tempo que ficamos a esmo e essa retrospectiva me fizeram lembrar de como tenho orgulho e amor por esse time. E torna essa conquista muito mais saborosa. Deixamos de ser motivo de piada e voltaremos a ser respeitados, a causar pânico nos rivais. Acredito que todos nós, palmeirenses, sentimos o mesmo.
Quero deixar aqui meu muito obrigado a todos que nos deram mais um título. Há muita coisa a melhorar ainda, porém, agora teremos um pouco menos de pressão. Assim as coisas poderão fluir melhor e voltarmos a conquistar títulos a rodo, como sempre fizemos. E peço desculpas também a quem se arriscou a ler esse texto enorme. Mas precisava compartilhar isso.
O GIGANTE ACORDOU E ESTÁ SEDENTO POR TAÇAS!
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